Cineclube Verberena estreia com filmes sobre ecologia e meio ambiente

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Quando se formou no curso se Cinema e Audiovisual em Joinville, no ano passado, Scheila Alexsandra resolveu colocar um projeto em prática: enviou para o Prêmio Catarinense de Cinema 2020 a proposta de um cineclube. Incentivada por professores e colegas concorreu com proponentes de todo o estado e teve sucesso: o Cineclube Verberena foi selecionado no edital de apoio. O nome e a logo do clube, em forma de dominó, são uma homenagem a Jacyra Martins da Silveira, cujo nome artístico era Cleo de Verberena. Ela é considerada a primeira mulher brasileira a dirigir um filme: “O Mistério do Dominó Preto” (1931), sua única obra. A identificação faz sentido: Scheila e a companheira de curso, Luiza Tavares, são as primeiras mulheres a se formar em cinema na Cidade das Flores.

Após a aprovação no edital, Scheila montou uma equipe com colegas da faculdade, calouros e interessados e dividiu as tarefas. Reservou para si a curadoria, acreditava que seriam poucas inscrições. No total foram 343 vídeos buscando vaga na mostra. “Achei que teriam poucos inscritos, tanto que pedi pra Maria Helena [parceira de cineclube] assistir o festival de Tiradentes pra gente selecionar alguns filmes”, conta. Ela não sabe precisar quanto tempo gastou na seleção, mas considerando que a maioria dos filmes tinha entre 10 a 20 minutos de duração, estima-se que tenha levado quase 100 horas assistindo aos vídeos sozinha. “Comecei dia 25 de janeiro e terminei na primeira semana de março”, revela.

Utilizando um software de planilha de cálculo, classificou os filmes em categorias como Indígena, LGBTQIA+, Melhor Idade, Consciência Negra etc. Selecionou 195 vídeos, que serão exibidos mensalmente, conforme classificação, até dezembro, cujo tema será Direitos Humanos. Oito destes filmes serão exibidos neste sábado e tratam de assuntos relacionados a ecologia e meio ambiente. Mais seis, na mesma temática, poderão ser conferidos no dia 20. A programação completa do mês de março você confere aqui, no Instagram do Cineclube Verberena. Os demais meses serão divulgados a tempo. Após a exibição, será feito um bate papo. A intenção era fazer encontros presenciais, mas devido à pandemia, nesse primeiro momento os debates serão online.

Dessa primeira conversa, participará Gui Rampazo, diretor de “Jornada do Gigante”. O documentário percorre da nascente à foz do igarapé do Gigante, um curso d´água que cruza a cidade de Manaus e liga diferentes realidades sociais do município. A live com os filmes e o bate papo ficará no canal do Verberena no YouTube por uma semana. Depois, um vídeo com os melhores momentos será postado no lugar. Além de Scheila atuam no Cineclube, dividindo funções: Jessé Rodrigues, João Jader Jakopitsch de Andrade, José Henrique Wiemes, Luiza Tavares, Marcelo Eduvirge, Maria Helena Budkevitz Correa, Mariane Araújo, Sarah Carolina de Souza e Yuri Posselt. É possível conhecê-los nessa postagem do Instagram.

Postura Crítica

Os temas escolhidos por Scheila revelam sua postura crítica, olhar que ela estende para a forma como vê a produção de audiovisual na cidade: “Carente em questão de espaço, fomento e união”. Para a jovem em Joinville, existem grupos fechados, segregados, e essa situação se mostra em momentos em que precisariam se unir. “Talvez a gente não esteja se apoiando o suficiente, pois sinto que cada área tem a sua luta e batalha diária para conseguir espaço e fomento. Por vezes, acabamos fechados nisso e esquecemos que ser apoiado também demanda apoio”, pontua. Ela conta que participou de alguns projetos com outros produtores da cidade no período da faculdade. “Infelizmente acontecem momentos machistas com assédio e misoginia, mas sinto que estamos mudando isso”, desabafa.

Para a cineclubista, existe um desinteresse pela arte. “É aquela coisa de ‘quero que meu filme seja visto’, mas quando é o filme do colega, a pessoa não tá lá”, alfineta. Entretanto, percebe coisas positivas no setor também. Ela cita como exemplo um documentário, de que participou durante a graduação e agora está em fase de pós-produção. “Trabalhar com a atriz Clarice Siewert, que estava no projeto, por exemplo, é ficar entusiasmada, pois além do amor que demonstra pela arte, ela tem muita disposição em fazer acontecer”, elogia. “Na cidade tem muitas pessoas como ela e toda vez que encontro alguém assim, sinto que estamos no caminho certo”, completa.

Palavra de Cineasta

Um dos curtas a serem exibidos nesse sábado é “Sementes” do cineasta gaúcho Marcelo Engster, atualmente radicado em São Paulo. O filme, lançado em 2015, fala sobre a importância do trabalho de um grupo de pequenos agricultores na preservação de sementes crioulas: grãos naturais, selecionados e melhorados tradicionalmente pelos camponeses. Conforme a página da Peleja Filmes no Facebook, coletivo de cineastas do qual Marcelo participou, o vídeo circulou o mundo desde “Três Passos, no Rio Grande do Sul, a Khanty-Mansiysk na Rússia; de Baja Califórnia, no México, a Punta Arenas na Antártida Chilena”. A Revista Francisca conversou com o diretor, que é um entusiasta de cineclubes.

O que te fez inscrever o curta “Sementes”, que tem prêmio e participação em várias mostras, no Cineclube Verberena?

Faço cinema para me comunicar, para falar com as pessoas, para apresentar meus pontos de vista. E quanto mais pessoas eu conseguir atingir com meus filmes, a quanto mais territórios ele chegar, melhor. Ainda mais com o “Sementes”, que traz um assunto que acredito ser de fundamental importância para nosso futuro como humanidade.

Ações como as do Cineclube te entusiasmam? Nessa peleia de fazer audiovisual no Brasil, você entende que cineclubes como o jovem Verberena são importantes?

Sou apaixonado por Cineclubes. Meus três primeiros curtas, aliás, foram sobre o tema, junto com um coletivo que eu participava quando morava em Santa Maria – RS [você pode assistir aqui o documentário “O que é Cineclube” do qual Marcelo participou da direção]. Minha formação como cinéfilo passa muito pelo movimento cineclubista, principalmente o Lanterninha Aurélio, de Santa Maria.

No grupo do Cineclube tem alunos de curso de cinema. Você, que já tem um caminho trilhado no audiovisual, o que pode dizer para quem está iniciando?

Acredito que o melhor a dizer é: faça. Pode parecer clichê, mas não consigo ver outra forma de começar na área, principalmente nesse momento tão complicado que a cultura brasileira vive (e aqui é preciso agradecer à Lei Aldir Blanc, é impressionante como ela conseguiu atingir muito mais artistas do que qualquer outra, espero que em algum momento vire plano de governo). Vi muitos colegas esperando o cenário ideal para filmarem e como nunca conseguiram, não realizaram. O cenário ideal é uma utopia. O importante é fazer o melhor que pode com aquilo que tem em mãos. E depois jogar o filho no mundo. Mesmo que não seja um grande filme, mesmo que ele entregue que você não é o novo Kubrick, exibir ao público é uma das maiores universidades do cinema. O retorno das exibições é incrível. Se joguem.

Você atuou de forma coletiva em grupos como a Peleja Filmes. Comente um pouco sobre essa atuação, por favor.

Eu continuo teimando em ser um idealista. Acredito na comunhão, no cooperar, no coletivo. Desde que descobri o fazer cinema em coletivos, com a Pão Com Ovo Filmes em Santa Maria, nunca mais larguei. A Peleja Filmes foi um grupo que criamos enquanto estudava na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro. Somos quatro amigos que em comum, no audiovisual, acreditamos que o importante é realizar. De todos os coletivos de que participei, foi o mais prolífico. Infelizmente, devido aos desencontros da vida, cada um foi morar em um canto. Mas continuamos em contato, sonhando projetos na esperança de um dia novamente filmarmos juntos.

Entrevistas e textos: Amcle Lima

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