Empreendedor social fala sobre os desafios da OMUNGA

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Foto: Daniel Machado

“A OMUNGA nasceu para potencializar a capacidade de crianças e professores de construir uma vida com liberdade, autonomia e poder de escolha”. É assim que Roberto Pascoal (à direita na foto acima) conceitua o empreendimento social que criou em Joinville em abril de 2013, após virar a própria vida do avesso e tomar a decisão de ajudar os outros por meio da educação.
Após dez anos atuando na área comercial do Grupo RBS, Pascoal sentiu que precisava dar um novo sentido a sua existência. Fez o caminho de Santiago de Compostela e embarcou para a África, a fim de conhecer a situação dos mais necessitados. A busca interna que levaria quatro meses virou quatro anos e deu a Roberto uma nova missão: proporcionar educação aos invisíveis da sociedade em lugares de extrema vulnerabilidade social, isolados, onde poucas ou nenhuma associação atua.
“Mas eu não queria ser um ongueiro vitimista, com discurso de direita ou de esquerda. Eu queria empreender, que o negócio fosse sustentável e beneficiasse as crianças dessas regiões”, destaca.
Com base na estratégia de construir bibliotecas e capacitar professores, os braços da OMUNGA já chegaram a 550 educadores e cerca de 6,5 mil alunos em duas cidades piauienses (Betânia e Curral Novo) e em Luanda, capital de Angola, onde a ação ocorre em parceria com uma congregação religiosa.
Em fevereiro de 2020, mais um destino: Atalaia do Norte, no Amazonas, quase na divisa com o Peru, de onde a equipe retornou após nove dias de uma viagem que incluiu a visita a uma tribo indígena. Foi, porém, a primeira etapa da presença da OMUNGA por lá, já que o projeto durará dois anos, com seis ciclos de formação de professores.
De volta à Joinville, Pascoal deu a seguinte entrevista a Revista Francisca:

Como são bancados os projetos da OMUNGA?
Roberto Pascoal – A OMUNGA começou com a ideia de vender produtos (camisetas, panetones) para subsidiar uma causa – viagens, bibliotecas, formação de professores. Mas com o tempo ficou claro que as duas coisas não se conversavam. Uma operação de varejo é muito complexa para eu dividir a atenção, tempo e time com a causa. Entrei numa reflexão difícil de me desapegar dessa ideia inicial e criamos novas linhas de monetização para nos bancar. Hoje temos um clube de assinatura, onde as pessoas investem um valor fixo por mês e tem experiências sociais e itens exclusivos da marca; doações mensais e pontuais; venda de camisetas, mas num fluxo muito menor; e projetos via leis de incentivo à cultura, que têm viabilizado nossos trabalhos de maneira mais segura e robusta.

Todos são voluntários?
Pascoal – Inicialmente trabalhávamos com voluntários, mas é muito difícil fazer nosso trabalho por meio de voluntariado. O voluntário vem quando pode e divide o tempo com outras responsabilidade, que não condeno, cada um tem suas prioridades. Mas, em contraponto, isso criava muitas lacunas na nossa operação. Adoro a ideia de valorizar profissionais. Quando pensei nesse novo formato de monetização, pensei que com projetos bem escritos eu conseguiria garantir a remuneração da equipe de trabalho, e é isso que está acontecendo. Hoje, só uso voluntários em projetos pontuais.

Como as pessoas podem ajudar?
Pascoal – A melhor forma de ajudar é assinando o nosso clube, que custa R$ 69,90 por mês, doando qualquer valor por meio do site da OMUNGA, a partir de R$ 5,00, ou comprando um dos nossos produtos. Também aceitamos livros literários infantis e infantojuvenis.

Como são escolhidos os lugares que recebem a ajuda da OMUNGA?
Pascoal – Escolhemos por indicadores sociais (Índice de Vulnerabilidade Social, Índice de Desenvolvimento Humano e Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), e também pelo isolamento, que pesa bastante. Depois que a gente escolhe, entramos em contato com o poder público para saber se há interesse no nosso projeto. 

Que retorno teve a participação no programa “Caldeirão do Huck”?Pascoal – Foram vários. Primeiro, o  dinheiro – R$ 151 mil para uma organização social como a nossa faz muita diferença. Além disso, a exposição – nosso número de seguidores, doadores e assinantes aumentou, embora muito menos do que esperávamos. E também nos trouxe chancela diante dos nossos investidores, estamos conversando com muitas empresas a respeito de viabilizar projetos via leis de incentivo à cultura. E conseguimos dar sentido para as pessoas, encorajá-las com a nossa história, e é isso que me deixa mais feliz.

O grande objetivo não são as bibliotecas, mas sim os professores. Como é isso?
Pascoal – A biblioteca é um símbolo de desenvolvimento para a cidade. Quando eu construo uma biblioteca num lugar desses, é uma euforia. Ela tem um simbologia em temos de desenvolvimento educacional e engajamento, e também como ferramenta para o professor. Mas é o professor o principal agente de transformação, o personagem que mais venero em toda essa história. A gente não vai para o interior da Amazônia distribuir livro para pobre, o que a gente tenta fazer é que o professor se sinta motivado, assistido, instrumentalizado e empoderado de si mesmo para que consiga ser esse instrumento de mudança.

O voluntariado vai salvar o mundo?
Pascoal – Pela minha experiência, não é o voluntariado que vai salvar o mundo, nem os empreendedores sociais como eu, nem os negócios de impacto social. Penso que seja um pensamento colaborativo, mais integrado com as necessidades humanas, de todos os lugares, chanceladas por ações. Modéstia à parte, acredito que é por isso que as pessoas gostam tanto da OMUNGA, porque elas veem alguém fazendo uma coisa que elas têm vontade de fazer, mas por “n” motivos não fazem. Se a gente olhar para quem está do nosso lado com um pouco mais de entrega, o mundo se resolve.

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