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25/03/2024Anunciada em fevereiro, com previsão de funcionamento ainda no primeiro semestre, a implementação do equipamento para cirurgia robótica no Hospital Dona Helena, de Joinville, envolve uma equipe multidisciplinar que vai da engenharia às mais diversas especialidades médicas, passando pelas áreas administrativas da instituição. O hospital está desenhando uma jornada totalmente distinta para o atendimento ao paciente que demandar o uso da cirurgia robótica. Os profissionais vão passar por um processo de treinamento e credenciamento. À frente dos trabalhos está Ernesto Reggio, médico-chefe do Programa de Cirurgia Robótica. Ernesto é doutor e pós-doutor em Urologia pela Universidade de São Paulo (USP). Segundo o médico, a Urologia, e todas as intervenções envolvendo o abdômen inferior, constituem as principais áreas em que a robótica é indicada com vantagens, como explica nesta entrevista.
Em que estágio se encontra o processo de implementação da robótica no hospital?
Temos feito reuniões semanais com todas as partes envolvidas na implantação do sistema de cirurgia com robô. São cerca de 15 profissionais de diferentes áreas, desde engenharia, engenharia clínica, arquitetos, marketing, vendas, enfermagem, os médicos, a equipe do centro cirúrgico etc. O Da Vinci Xi é o robô mais moderno do sistema Da Vinci, e a Intuitive Surgical, a fabricante, é a pioneira e líder de robótica mundial. O trabalho alcança, externamente, empresas que fazem a certificação da cirurgia robótica para médicos e treinamentos para enfermagem, para que os profissionais da linha de frente tenham habilitação e familiaridade com o sistema robótico – uma máquina de alta complexidade. O prazo para o robô estar no hospital é final de abril, início de maio. E o prazo para que esteja em operação, a princípio, é início de junho. Ao mesmo tempo, nossa equipe tem visitado hospitais de referência em robótica, como o Sírio-Libanês, de São Paulo, para aprender com quem já faz a partir também dos gargalos que tiveram na fase de implementação do sistema.
Qual o tamanho dessa equipe que estará envolvida com procedimentos utilizando a robótica?
Serão formadas equipes dedicadas à cirurgia robótica. A ideia é que tenhamos enfermagem dedicada, instrumentadores, técnicos, como também os médicos e os anestesistas, todos altamente qualificados. No corpo clínico, já dispomos de cirurgiões certificados e familiarizados com as cirurgias e o sistema robótico, e o plano agora é ampliar esse time, ou seja, teremos mais médicos certificados para a robótica. Devemos anunciar parceria com uma empresa que faz treinamento e certificação nessa atividade. O hospital também adquiriu o chamado simulador de cirurgia robótica, utilizado para o treinamento dos médicos. É como se fosse um robô, mas você faz o treinamento em um software, com funções como a manipulação das pinças. Enfermeiras e médicos bastante experientes com cirurgia robótica estão se engajando nesse processo, para nos oferecer uma consultoria especializada. Já existem no Brasil enfermeiras 100% dedicadas à robótica, que atuam no treinamento de equipes em hospitais de todo o país que investem nessa área.
Importante registrar que o paciente terá uma jornada exclusiva e diferenciada, ao optar pelo procedimento via robótica, isso já no momento da elegibilidade como paciente. Teremos equipes atuantes no atendimento, desde o pré-operatório, no dia da consulta, até o pós-alta. Considerando todas as frentes, podemos prever que algo em torno de 20% do quadro de profissionais do Dona Helena estarão envolvidos com a nova tecnologia, nas áreas administrativas e médicas.
Quais as principais áreas cirúrgicas atendidas por esse equipamento?
O robô tomou impulsão em todas as cirurgias do chamado andar abdominal inferior, ou seja, do abdômen inferior. Quem deu grande alavancada na robótica foi a cirurgia de próstata, a prostatectomia radical. Na maioria dos serviços, quando começam, a especialidade mais atuante é a urologia, mas qualquer cirurgia pélvica sempre vai muito bem; urologia, ginecologia, proctologia, são cirurgias com um benefício muito grande pelo uso da robótica. Essas áreas estão bem definidas. E também a cirurgia do aparelho digestivo e a cirurgia torácica – essas são as quatro maiores. Temos visto nos novos serviços que normalmente há áreas de acordo com a característica do hospital que se desenvolvem mais rápido e que acabam dando o maior suporte para o sistema. Geralmente, a ênfase é a urologia e alguns hospitais têm muito forte a cirurgia bariátrica. E existem áreas em que a cirurgia robótica é atuante, mas o número de pacientes não é tão alto, como cirurgias cardíacas e de câncer de cabeça e pescoço.
Como tem sido a resposta dos profissionais e qual a expectativa quanto à reação dos pacientes?
A fase de uma possível insegurança com relação à tecnologia já foi superada há tempo, até porque o sistema, no Brasil, completou 15 anos no Brasil. O que gera é uma expectativa dos médicos e das equipes em se certificar para a atividade. Hoje em dia, há pacientes procurando por cirurgia robótica, que já apresenta resultados um pouco superiores, em quase todas as cirurgias, e muito superiores em algumas.
O que Joinville vai ganhar com a incorporação desta tecnologia no Hospital Dona Helena?
A adoção da plataforma traz um primeiro benefício, que é justamente a possibilidade de realização de cirurgias com auxílio da robótica, que garantem menor agressividade, menor trauma recuperação mais rápida e menor risco de comorbidades. Mas a implantação da cirurgia robótica em qualquer hospital traz o que chamamos de ganho em halo, que são os ganhos secundários: todo o sistema se desenvolve. Aqui, por exemplo, em uma área importante para o hospital que é a Oncologia, nós vamos começar a implantar um Ambulatório de Uroncologia. Com o robô, você aumenta a qualidade, tanto do ponto de vista técnico quanto de materiais e tecnologias.