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Tenho dois olhares sobre o impacto da pandemia para a cultura. Primeiro, é inegável, foi um setor que muito sofreu, pelo fato de não ter mais seu público presente e diante da súbita necessidade de transformar seus processos para não sair completamente da ativa. Isso expôs, de maneira dolorosa, a completa falta de políticas públicas voltadas para a área. A inexistência de rápidas ações de apoio para garantir a sobrevivência do setor, seja por auxílio financeiro ou disponibilização de meios para adaptação ao mundo virtual, representou um peso enorme para muitos artistas e grupos, que tiveram perdas irreparáveis.
O segundo olhar, mais otimista, observa que, durante o isolamento, mostrou-se a força da cultura e dos setores criativos ao se fazerem ativamente presentes nas formas disponíveis: TV, rádio, internet, YouTube, Spotify e outros meios, contribuindo para a saúde mental da população. O que seria de nossa sanidade se não fossem os filmes, novelas e espetáculos, a música, os livros, as apresentações circenses e teatrais que foram rapidamente transportadas ao mundo virtual de forma generosamente gratuita?
A mudança não é fácil para o artista, que precisa muito do “sentir” que vem do público, repensar as atividades para o universo virtual – e necessita de apoio para essa transição. Essa variante digital abriu mais uma cadeia produtiva a ser organizada e potencializada, de forma diferente da cadeia presencial, mas que também impulsiona a economia da cultura. Economia da cultura é a movimentação financeira gerada quando das necessárias contratações para produzir e realizar um produto cultural.
Vejo a concepção de produto cultural dividido em três segmentos. O núcleo criativo, que é a alma do artista, no qual se processa o conhecimento e se transforma em ideia do produto cultural. Essa parte não deve sofrer interferência de mercado ou de editais, pois nela estão a identidade, o perfil de pesquisa do artista ou grupo artístico. É sagrada.
O segundo segmento é da produção. É aí que se movimenta a cadeia produtiva que vejo como “pulo do gato” a ser mais bem aproveitada, agregando impactos sociais ou de identidade. E, finalmente, o produto final, calcado no conhecimento, aliado da educação não formal.
Creio que a alternativa, para este ano de 2021, é apostar nas necessidades que movimentam a cadeia de produção, que podem ser objeto de aulas, workshops, oficinas virtuais e gerar novas possibilidades de trabalho, pois formarão “fornecedores” capacitados para seus produtos culturais. Exemplo: explicar como é a pesquisa e confecção de figurinos ou adereços de época para algum grupo de costureiras em área de vulnerabilidade. Outra possibilidade: as profissões convencionais, hoje, pedem habilidades criativas, inteligência emocional, boa comunicação – que são inerentes nos setores criativos. Transmitir esse exercício do núcleo criativo para profissionais do setor privado pode ser um dos caminhos para que os artistas mantenham sua sobrevivência, até haver melhores possibilidades de monetização virtual ou retorno presencial.
Investir na economia da cultura estimula a economia criativa, calcada na circulação do conhecimento, que, por sua vez, aumenta o repertório e impulsiona a criatividade. Esse processo criativo gera valor, agrega impactos e amplia as possibilidades de desenvolvimento, tanto econômico quanto social e em seus outros desdobramentos. Mas todos esses conceitos carecem ainda de compreensão, tanto pela classe artística quanto pelo setor público e o privado, que ainda veem o fomento como despesa, quando, na verdade, se bem engrenado, gera dividendos para os cofres públicos.
Precisamos urgentemente investir em capacitação no conceito da economia da cultura e economia criativa para que Joinville tenha ampliado seu potencial artístico, que é de excelente qualidade. Urge estimular a economia criativa, inclusive na sua forma digital, para surgirem novas possibilidades.
Bora criativar!
Helga Tytlik, consultora e palestrante em economia criativa e da cultura