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28/11/2022Josiane Neves da Silva Sant´Anna é professora de Apoio Pedagógico na Escola Municipal Monsenhor Sebastião Scarzello, em Joinville. Mestre em Educação e especialista em Gestão Escolar, Educação Infantil e Psicopedagogia. Maria Fabiane Souza Israel e supervisora na Escola Sebastião Scarzello. Especialista em Neuropsicopedagogia; o artigo faz parte do conteúdo especial sobre tendências em vários setores publicado na revista de novembro
Que escola queremos para nossos filhos e filhas? Que escola quero para mim, professor(a)? Uma escola em que meninos e meninas aprendam conteúdos da vida e para a vida, em uma relação dialógica e comprometida com o outro. Uma escola em que todos e todas tenham acesso ao verdadeiro conhecimento construído ao longo da história. Uma escola em que as crianças se sintam acolhidas em suas subjetividades. Parece utópico? Sim, mas, como a professora Luana Tolentino, acreditamos que “outra educação é possível”.
Por muito tempo, as escolas e seus currículos reproduziram uma única história – do privilégio, supremacia e poder dos brancos europeus, enquanto eram apagados os conhecimentos produzidos pelos povos originários e pelos africanos e afro-brasileiros. Povos originários, africanos e afro-brasileiros só ganhavam espaço nos livros e discursos no capítulo da escravização e subalternidade, ou, ainda, quando um preto ou preta tinha visibilidade em livros, eram embranquecidos. Como foi possível construir identidades negras e indígenas positivas, se só foram apresentados conteúdos que os oprimiram e os marginalizaram? A educação eurocêntrica enalteceu o privilégio branco, e, com isso, o racismo entrou pela porta da frente da escola.
Infelizmente, se a sociedade produz práticas preconceituosas e racistas, a escola, ainda que de maneira velada, reproduz tais práticas em seu território. Ainda assim, nos deparamos cotidianamente com o mito da democracia racial (conforme o antropólogo Kabengele Munanga), em que muitos profissionais da educação insistem na falácia que não existe racismo entre as crianças e que não é necessário falar sobre racismo porque somos todos iguais.
Buscamos possibilitar, no cotidiano escolar, uma educação para as relações étnico-raciais, uma pedagogia com intencionalidade, perpassando o fazer pedagógico. Faz-se necessário suprimir atitudes racistas, garantindo às crianças, adolescentes e adultos uma educação de qualidade, inclusiva e acolhedora, pautada, como defende Eliane dos Santos Cavalleiro por concepções, discursos, narrativas, materiais e práticas educativas que propiciem vivências respeitosas.
Nessa perspectiva, promover uma educação inclusiva e emancipatória, de modo que meninos, meninas, adolescentes e adultos se sintam representados, respeitados e valorizados, em suas histórias e culturas, nos diferentes espaços, nas relações, discursos e práticas educativas. De que modo? Por meio de propostas, vivências e experiências reflexivas, críticas e emancipatórias, que despertem a consciência crítica de maneira significativa, transformadora, honesta e amorosa. As crianças precisam estar representadas nas páginas dos livros de literatura, nas bonecas e brinquedos, nos lápis de cor de diferentes tons de pele, nas práticas educativas que valorizem suas histórias, culturas e antepassados.
Em 2020, em meio à pandemia, a equipe administrativa e pedagógica da Escola Municipal Monsenhor Sebastião Scarzello, em Joinville, provocou as crianças e suas famílias para uma construção coletiva. Todas as crianças de 4 a 12 anos deveriam desenhar um(a) boneco (a) preto(a), e com a família transformar o desenho em um boneco de pano. O boneco de pano seria trocado entre as crianças da escola. A maioria aceitou a provocação e confeccionou o(a) boneco(a), mas, para surpresa da equipe escolar, muitos externalizaram que não confeccionariam um boneco preto, e outros, ainda, no momento da troca, não aceitaram levar bonecos pretos para casa.
Essas reações levaram a equipe, em 2021, a olhar para as paredes da escola, para as práticas educativas, para os discursos dos profissionais e para as relações que aconteciam naquele espaço. Percebeu-se a ausência de representatividade para a crianças, adolescentes e adultos negros que habitavam a escola. Como isso, a equipe pedagógica levou alguns desafios para os docentes: refletir sobre o racismo; possibilitar materiais, livros de literatura, música, arte e brinquedos que dialogassem com suas identidades de meninos(as) pretos(as); e construir práticas educativas antirracistas a partir de pesquisas sobre personalidades negras brasileiras, de modo que as crianças se sentissem representadas, levando-as a construção de identidades positivas.
Todas as crianças (pretas e não pretas) alargaram seus horizontes apropriando-se de conhecimento, cultura e ciência produzidos pelas personalidades pretas e indígenas, nacionais e locais. Hoje, percebe-se uma comunidade escolar vivendo a educação plural de um jeito desacostumado, a partir de um currículo que dialoga com os diferentes contextos e subjetividades.
Sim, o currículo precisa ser (re)pensado e (re)construído todos os dias, de maneira vigilante. Não é possível enfrentar o racismo institucionalizado com pequenos ajustes. É preciso criar referências de matriz cultural afro-brasileira e indígena para a promoção de um novo futuro. Antes de saber para onde se vai é preciso saber quem somos e conhecer quem veio antes de nós.
Quais os resultados de uma educação antirracista? Autoestima nas alturas, melhora do desempenho escolar e socioafetivo de crianças negras e indígenas e olhar crítico e questionador de crianças que percebem a falta de representatividade em um jogo digital, por exemplo, apontando que estão atentas ao apagamento de pessoas negras e indígenas. São resultados que se tornam visíveis quando a consciência negra e indígena acontece todos os dias.